segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Após alguns dias em Cracóvia e outros em Varsóvia, já com a família completa, era hora de abandonar a Polônia e seguir até Vilnius, capital da Lituânia. Decidimos ir de ônibus, apesar de que talvez valha a pena o avião se você estiver disposto a desembolsar um pouco a mais. A viagem de ônibus leva cerca de 8 horas e um detalhe importante é que os ônibus não fazem o percurso mais curto, já que haveria que passar pela Bielorrússia e seria necessário visto. Já a fronteira entre Polônia e Lituânia não tem controle, pois a Polônia e os três países bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia fazem parte da União Europeia. Há planos de integrar as redes férreas dos bálticos, mas ainda falta bastante pra se concretizar. Quando planejava a viagem, usei o site Travel the Baltics by Train-Bus-Ferry como referência e acabei optando por ônibus.Os bálticos facilitam ainda mais a vida do turista já que os três adotaram o Euro, ao contrário da Polônia. E voltando ao ônibus, escolhemos a empresa Lux e esse foi um dos melhores ônibus em que já viajei. O ônibus era novo, confortável, contava com wi-fi e telas individuais com uma biblioteca de filmes e séries. Sem contar que uma viagem de 8 horas custava 14€. Uma pechincha!

Noite começando em Vilnius

Chegando a Vilnius a primeira impressão foi de uma cidade - e também de um país - menos cosmopolita e mais rural do que Varsóvia. Já os preços pareceram mais caros, talvez pelo euro. Chegamos ao airbnb e como viajamos de dia, já era por volta das 19h. Como era verão, ainda tínhamos algumas horas com luz e somado ao fato de que havíamos passado várias horas em um ônibus, queríamos caminhar pela cidade.

Balões em Vilnius

Caminhamos até a Catedral de Vilnius e fomos surpreendidos por (muitos) balões que voavam pelos céus da cidade. Passamos um tempo observando os balões e logo seguimos ao Castelo Gediminas para entrar antes que fechasse. Há duas maneiras de subir ao castelo. A primeira é de funicular, que estava fechado, a segunda é subir por um caminho que apesar de curto é bem íngreme. A entrada foi um pouco salgada, 5€, e durante o verão fica aberto até as 21h. Do topo do castelo vivemos a melhor vista panorâmica da cidade e aproveitamos para tirar fotos. Nos surpreendemos com a quantidade de igrejas que vimos desde o alto. Havia também uma exposição sobre uma demonstração política chamada Corrente Báltica (Baltic Chain). Os países bálticos haviam sido anexados pela União Soviética e em 23 de agosto de 1989, cerca de dois milhões de pessoas dos três países deram as mãos formando uma espécie de corrente para manifestar o seu desejo de independência. Muito legal! Já era tarde e decidimos procurar um lugar para comer, já que tínhamos fome e não havíamos comprado nada. Nesse momento vi que Vilnius não é uma cidade onde as pessoas dormem tarde, pois havia quase nada aberto.

Igreja de Santa Ana

Na manhã seguinte, fomos conferir o museu do genocídio, conhecido como Museu da KGB. Aparentemente é super recomendado e uma das atrações mais visitadas da cidade. O local funciona em um antigo centro de tortura da época da União Soviética. O plano era passar toda a manhã por lá. Infelizmente, como nem tudo é perfeito, ao chegar nos demos conta que o museu não abre durante segundas e terças e esse dia era justamente uma terça! Nos sentamos em um banco na frente do museu meio tristonhos e enquanto chorávamos nossas pitangas assistimos de camarote a um pombo ser atropelado por um carro, tudo praticamente em câmera lenta. O pombo deveria estar doente já que enquanto o carro estacionava, literalmente em cima dele, ele nem se mexeu. Praticamente uma eutanásia. Durante esse momento de epifania demos conta de que a vida é finita e que deveríamos seguir o dia!

Com os ânimos renovados (após assistir a um pombo ser atropelado?!?!) fomos visitar algumas atrações no centro da cidade. Passamos outra vez pela Igreja de Santa Ana, que havíamos visto na noite anterior, mas agora durante o dia. O lugar é na verdade um complexo com outras igrejas também belíssimas, como a Igreja de São Francisco e Bernardine. Passamos também pela Prefeitura de Vilnius, que achei parecida com a Catedral e pela Igreja de São Casimiro, que durante seus séculos de existência já mudou de religião várias vezes. Vale a pena entrar e ver. Fomos também aos Portões do Amanhecer (Gates of Dawn), que é extremamente fotogênico!

Bairro Užupis

Apesar dessa overdose de igreja, uma visita a Vilnius não está completa sem passar pelo bairro alternativo Užupis. O bairro se promove como um país independente, algo parecido à Christiania na Dinamarca. Mas enquanto Christiania é um reduto alternativo no sentido legalize, Užupis é um reduto artístico. O bairro é cheio de galerias de arte e o graffiti e as pichações contrastam com o restante da cidade. Em uma das paredes do bairro há murais com sua "constituição", que é bem divertida. Os murais estão em muitas línguas, mas nenhum em português. Acabamos comprando um papelzinho por 1€ com a constituição em espanhol. Após dois dias em Vilnius, era hora de seguir a nosso novo destino, Riga na Letônia.


Riga vista do outro lado do Rio Daugava

Viajamos outra vez de ônibus com a Lux Express. O legal é que a viagem foi bem mais curta, 4 horas, e custou 16€ por pessoa. Chegamos a Riga e logo fomos ao nosso airbnb. O lugar que havíamos reservado ficava em uma região central da cidade e exatamente acima de um bar chamado Bierhaus. Fiquei um pouco apreensivo ao reservar pensando que seria aquela festa a noite inteira, mas pelo contrário. O bar era fechado e bem tranquilo. Eles inclusive serviam comida e os hóspedes tinham desconto de 10%.



O famoso Gato de Riga

O que eu tinha lido à respeito de Riga é que é a menor das capitais bálticas e a menos visitada. Mas, ao contrário do que esperava, vi muito mais turistas lá do que em Vilnius. Além disso, a cidade pareceu muito conservada e bem charmosa. A Cidade Velha inclusive conta com alguns patrimônios da Unesco. Não entendo muito de arquitetura, mas a cidade contém muitos exemplos de art nouveau e me lembrou bastante Copenhagen. A cidade conta com alguns museus, mas o melhor programa é perambular pelas ruas da Cidade Velha. E isso foi o que fizemos durante o nosso primeiro dia. As principais atrações de Riga estão do lado Leste da cidade, que é cortada pelo rio Daugava.


Iniciamos nossa caminhada passando pela Catedral Ortodoxa da Natividade, que pode ser reconhecida de longe devido a sua cúpula dourada. De lá, passamos pelo Monumento da Liberdade, que celebra a independência da Letônia (que depois seria anexada pela União Soviética). Então, seguimos à Cidade Velha, que é cheia de cafés e bares, muito legal mesmo. Por lá passamos pela Igreja de São Pedro, que tem uma fachada medieval muito bonita, pelas pitorescas Casas 3 Irmãos e pela Casa dos Cabeças Negras (House of the Blackheads), que era uma guilda de mercadores do século XIV. Infelizmente, a guilda estava em reformas e não dava pra ver bem a fachada. Vimos também o famoso Gato de Riga, uma estátua que fica no topo de uma casa e a estátua do conto Os Músicos de Bremem, dos irmãos Grimm. O legal é que todas essas atrações estão bem próximas e podem ser facilmente percorridas caminhando em poucas horas.



Será que dá mesmo pra se perder em Riga?

Durante nosso segundo dia, aproveitamos para ir ao Museu da Ocupação, que conta a história da Letônia durantes os domínios nazista e soviético. Exatamente isso! A Letônia foi ocupada pela Alemanha Nazista e logo depois "salva" pela União Soviética. Digo salva porque durante o início da ocupação comunista a população tinha esperança de que as coisas seriam melhores do que durante a ocupação nazista, mas na verdade foi como trocar seis por meia dúzia. O legal é que o museu conta essa história com muitas fotos e entrevistas da população da época. Imperdível pra quem se interessa pela história local. Em seguida, fomos ao Mercado Central que funciona em antigos galpões de Zeppelins. O mercado era bem interessante com muitos ingredientes para cozinhar, principalmente frutos do mar. De qualquer forma, o que nós queríamos era almoçar e, apesar de vender ingredientes pra tudo, o mercado praticamente não tinha lugares para comer. Acabamos tomando umas cervejas artesanais em um bar lá mesmo e procuramos depois um restaurante próximo.



As pitorescas Casas Três Irmãos de Riga

Usando o tripadvisor achamos o restaurante Folkklubs Ala Pagrabs,uma ótima surpresa. O restaurante fica no subsolo e serve comida simples, mas farta. Na hora de pedir a bebida, cada um iria pedir uma caneca e, nesse momento, a Rocio sugeriu ao invés de cada um pedir uma caneca, por que não pedir uma jarra? O problema é que a jarra tinha três litros de cerveja e isso para cinco pessoas, ao meio-dia. Conclusão da história: após encher a pança com comida e alguns litros de cerveja caminhamos até o outro lado do rio, atravessando a ponte, e um tinha mais preguiça do que o outro! Após descansar um pouco, sentados nos bancos, demos mais uma volta na Cidade Velha, tiramos umas fotos que faltavam e voltamos à acomodação.


Entrada do Centro Histórico de Tallinn

Após esses dois dias em Riga, era hora de outro ônibus agora com destino a Tallinn, na Estônia. A primeira impressão, logo ao chegar, foi a de que a Estônia é o país mais diferente dentre os três Bálticos. Tallinn pareceu mais com Helsinque do que com os outros bálticos. Pela proximidade, há muito turismo finlandês por lá. Os barcos fazem o percurso Helsinque - Tallinn em duas horas e custam entre 20 e 40€ por trecho, dependendo do horário. Não me pareceu tão barato, mas é uma boa opção pra quem quer seguir viagem à Finlândia. Tallinn estava lotada de jovens finlandeses que vão para beber até não poder mais, já que os preços na Estônia são mais convidativos e também porque o poder aquisitivo dos finlandeses é um pouco maior. E enquanto as línguas da Lituânia e da Letônia soam bem parecidas, a da Estônia é bem diferente. A Estônia é conhecida por ser um país que investe bastante em tecnologia e desburocratização, sendo até conhecida como E-stonia e também é o berço do Skype. Mas, de todos os lugares por onde havíamos passado, foi a internet mais lenta e a internet grátis da rua nunca funcionou. Mas bem, pode ter sido apenas má sorte.


Uma das torres do Centro Histórico de Tallinn durante à noite

Como nos outros países bálticos, começamos pelo Centro Histórico. O de Tallinn também era lindo, mais medieval, com resquícios do muro que cercou a cidade no passado e também várias torres, uma mais linda do que a outra. O centro histórico era grande e dividido em duas partes, a alta e a baixa. Você pode ir à alta passando pelo Jardim Dinamarquês. Apesar da história contemporânea da Estônia ser muito parecida com a da Lituânia e da Letônia (russos, nazistas e comunistas), a história mais antiga é diferente e envolve a Dinamarca e a Suécia. A própria palavra Tallinn, em estoniano quer dizer Cidade Dinamarquesa, já que foi fundada por um rei dinamarquês que conquistou o norte da Estônia.


Praça Central do Centro Histórico de Tallinn

Passamos por todo o centro histórico e fizemos o free walking tour para aprender um pouco da história do país. Adoramos o Town Hall, a Igreja de St. Olaf e a Igreja de São Nicolau. Inclusive se pode subir à Igreja de São Nicolau, apesar de que não subimos porque olhando de fora nos pareceu que a vista não seria tão legal. Fomos também ao Museu Niguliste e entramos. A entrada custou 6€, que apesar de não parecer caro para um museu acabou sendo porque o lugar é bem pequeno. O carro chefe do museu é a pintura Dança Macabra, feita na época da peste negra.


Vista de Tallinn desde o Jardim Dinamarquês

Aproveitamos nossa última noite na Estônia, e que também era meu aniversário, para ir à uma sauna "tradicional". E digo tradicional porque na verdade a maioria das pessoas lá eram da Rússia, o que acabou transformando o lugar em uma sauna russa. O local se chama Kalma, homens pagam 10€ e mulheres 9€. A fachada da sauna foi o lugar que mais pareceu conservar a arquitetura soviética que vi em toda a cidade. Na área masculina, o pessoal comia pizza, fandangos e fumava sem parar, o que somado ao fato que todos falavam russo me fez pensar que o lugar era uma área de descanso da máfia russa! Mas, preconceitos à parte, havia uma tradição de se golpear com galhos com folhas em uma espécie de autoflagelação e higienização. Apesar de ter gostado da experiência, ainda prefiro a sauna finlandesa.

Após esses dias em Tallinn, era hora de seguir viagem. Agora, saindo dos bálticos e indo à Rússia, mas isso fica para o próximo capítulo. Adorei conhecer os bálticos e me surpreendi positivamente. Os três países são encantadores e um complementa o outro. As distâncias entre eles são próximas e o fato de usarem o euro e falarem bem inglês facilita bastante a viagem. Embora eu não ser adepto ao turismo expresso, passando poucos dias em cada cidade, as capitais bálticas são pequenas e podem facilmente ser percorridas caminhando, coisa que eu adoro fazer quando viajo. Também foi legal o fato de não haver tanto turismo quanto nas outras capitais europeias, o que faz com que os lugares não sejam tão cheios e nem os preços estratosféricos. E gostei também de aprender que Lituânia, Letônia e Estônia têm histórias contemporâneas parecidas, já que sofreram bastante durante o regime soviético, e hoje têm se desenvolvido bastante.

Rússia - Parte 1 - São Petersburgo

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